5 de fevereiro de 2010

O tempo dos outros

Nunca conheceremos o tempo dos outros, até mesmo porque os outros são muitos. Portanto, se os outros são muitos e para eu ter acesso a eles preciso um pouco de reconhecimento de mim mesmo, qual é o meu tempo (para mim mesmo) ao qual posso usar ao outro?

O tempo parece se esconder nas entranhas de nós mesmos, como os grandes rochedos das costas oceânicas. Dentro de suas cavernas esconde um enigma. Ontem ao atender um homem de setenta anos, tive uma constatação: não sabemos o tempo do outro pelo tempo cronológico.

O homem estava angustiado por sua intolerância. Queria mudar, ser mais paciente, mais condescendente. Porém, de tanto exercitar a transigência acabou se estressando, irritando-se consigo mesmo. Após várias tentativas, entrou na resistência, na tensão crônica que o levou a uma forte dor de cabeça, e ao aumento de pressão arterial. Aferi a pressão dele que marcava 14 por 10. Conversamos durante meia hora sobre isso, e então resolvi levá-lo ao relaxamento consciente. A dor de cabeça persistia. Após alguns minutos respirando, de repente o rosto dele enrubesceu, e o cenho se contraiu, a dor agora era insuportável. Tive de finalizar o relaxamento porque o efeito estava sendo o contrário. Verifiquei novamente a pressão arterial. Estava agora 19 por 10. Não cabia a técnica naquele momento.

Pedi para ele se levantar devagar e ir beber um pouco de água. Esperei que ele se refizesse. Mudei de assunto, falei algumas banalidades, saindo do assunto que era tão angustiante para ele. Após alguns minutos a pressão arterial voltara ao normal. Ele se sentia melhor, a região da testa estava dolorida.

O tempo é subjetivo. Saber qual o tempo do organismo não é tarefa fácil, ou mesmo impossível. Enfim, tem de haver sensibilidade para entrar nas cavernas da personalidade humana. Caso contrário, podemos nos assustar com o que vamos encontrar.

Um comentário:

  1. Anônimo02:16

    Interessante Pedro! Tenho refletido bastante sobre tudo isso e principalmente sobre nosso próprio tempo.
    Você se incomoda se eu colar esse texto no meu blog ?
    A próposito ontem lí uma entrevista sua para o jornal "Tempo", gostei muito! Principalmente da parte que você diz estar sempre de passagem e sobre não poder construir uma casa na ponte da vida ! Grata Abraços

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