23 de julho de 2010
Projeção ou realidade?
Projeção em psicologia significa uma maneira de nos defender de pensamentos indesejáveis, ou mesmo inaceitáveis. Sendo assim, projetamos aquilo que não queremos ver em nós nos outros. Criamos uma ideologia para as nossas convicções, preservando o conteúdo psíquico reprimido. É uma espécie de gaiola onde mantemos os nossos passarinhos pretos (Black Birds). Ao mesmo tempo em que queremos ter a liberdade para eles, temos receio de que outros os vejam voar. É um sentimento tão contraditório que preferimos uma explicação plausível para eles. Encarar as nossas dificuldades é mais complicado do que empurrá-las para debaixo do tapete.
Culpar os outros, por exemplo, pode ser um tipo de projeção. Pois, culpamos alguém pela dificuldade em ver o nosso próprio fracasso. Em tal caso, evitamos o desconforto em ver em nós a falta e, sendo assim, mantemos o problema no inconsciente, pronto a ser projetado no primeiro que tiver uma situação semelhante à nossa.
Hoje, percebi uma de minhas projeções. Afinal, todas elas são inconscientes e só podem se tornar conscientes quando somos honestos com nós mesmos. Mais uma vantagem de envelhecer.
Vou exemplificar com um exemplo próprio:
Semana passada eu fiquei sabendo que o meu enteado, casado há três anos com uma mulher com um filho do primeiro casamento, resolveu ir embora para outro país. A desculpa dele é de que precisa construir a sua vida profissional. Independentemente de eu saber o porquê de sua dificuldade relacional logo eu o julguei, dizendo que era uma irresponsabilidade.
O que eu não estava percebendo era que eu tive a mesma situação relacional com a mãe dele. Quando eu tinha 19 anos de idade, comecei a namorar a minha atual esposa. Ela tinha dois filhos pequenos, e eu tive de enfrentar muita dificuldade em assumir aquelas duas crianças, hoje adultas.
Ele está repetindo a mesma história, e decidiu seguir sozinho. Talvez, eu não quisesse assumir uma separação na época e ir embora. Não me arrependo do que vivi. Porém, nada sabemos do que pode ser melhor ou não. Todas as decisões têm suas consequências. Espero que ele esteja certo, e eu também.
Em termos de inconsciente a vida nem sempre é tão romântica como é para o consciente. Criamos ilusões, justificativas e adornos para nos sentirmos bem. Hoje, vejo que talvez ele esteja no caminho de sua autodescoberta, porque casar-se com alguém que já possui uma história familiar não é uma situação tão fácil assim, existem muitas personalidades envolvidas, interesses diversos. Nunca sabemos ao certo se pertencemos mesmo à família que criamos, ou se somos apenas um apêndice.
Eu acredito que ele não esteja totalmente consciente de sua decisão, mas os passos a seguir têm de ter seu sentido.
Sinto muito em julgá-lo por não assumir a família a qual ele se agrupou, mas as direções são muitas, e todas com um significado próprio. E, quem somos nós para julgar?
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Que lindo Pedro! É bem isso mesmo.
ResponderExcluirMuitas vezes julgamos as pessoas tendo como base padrão, nossas próprias experiências, nossos próprios sentimentos e decisões.
E muitas vezes inconcientemente criticamos ou julgamos no outro suas atitudes e comportamento, nos esquecendo que muitas vezes já cometemos as mesmas atitudes, ou situações em nossas vidas no passado.
Ou muitas vezes os julgamos por terem a coragem de escolher um caminho que nós em algum momento não tivemos a coragem de escolher tal caminho.
(Na verdade acredito que isso seja um medo inconciente de atestar que alguém que foi por um caminho diferente do escolhido por nós. E alcance os resultados que nos almejavamos?)
É sempre um prazer ler seus artigos meu amigo!
Sempre nós leva para dentro de nos mesmos..Nos coloca no centro de onde deveriamos estar sempre.
Forte abraço
Creusa,
ResponderExcluirobrigado pelo comentário. Eu não sei se você fez um questionamento, mas se fez, respondo que sim. A repressão nos faz sentir medo de ver no outro aquilo que não conseguimos realizar em nós. Somos todos assim. Como Freud dizia, se não tivéssemos os "mecanismos de defesa" não suportaríamos.
Um grande abraço
É... tem razão. Penso que às vezes formamos opiniões com cara de julgamentos. É preciso muita atenção ou "vigilância" para tomar consciência disto. Um olhar agudo sobre nós mesmos... acho que é isto...e um certo treino em nos desmascarar com uma pitada de bom humor, ajuda. Acho.
ResponderExcluirGrande beijo. Se quiser meu livro autografado, Pedro, me fale. Mando para você, tá?