
Grande parte de nossas doenças é devido ao medo. Um músculo tenso, contraído, é um músculo em prontidão. Quando o medo sai de cena os sintomas são aliviados, o corpo fica leve e se cura.
Muitas pessoas são radicais e inflexíveis com suas crenças. Semana passada uma pessoa me perguntou se eu não tinha medo de minha aposentadoria. Mesmo com um milhão de reais investido e ganhando uma boa aposentadoria, ele duvida estar seguro. “Tenho medo de o dinheiro acabar”, ele me confidenciou. Perguntei a ele: "Com a sua idade e seus hábitos, você acredita que o seu dinheiro acabará?”. “Nunca se sabe”, ele coçou a cabeça. Então eu disse: “Sabe por que não acaba? Porque você não tem mais tempo de gastá-lo".
Se compreendêssemos que somos nós mesmos a criar a ideologia do medo o medo terminaria. Ainda resistimos em ceder a nós mesmos, resistimos pelo medo de perder as nossas ideologias. Construir muros reforçados de proteção só nos isola do aprendizado. Só aprendemos quando vivemos espontaneamente, experimentamos aquilo que outrora não conhecíamos. Se queremos conhecer o novo temos de abandonar a zona de conforto. Abrir-se para ir à busca de um novo padrão. Só mudamos ao deixarmos de lado os padrões antigos. Ao permitirmos sentir a nova experiência, sem julgá-la - ou seja, sem racionalizá-la - estaremos prontos a ver a situação com novos olhos. Aí o corpo poderá se inclinar. Isso é humildade com nós mesmos. Só mudamos quando somos humildes. Ser humilde é também uma maneira de nos curar do medo.
Ao ver uma atitude prepotente e autoritária vejo o medo estampado no corpo dessa pessoa. Ela se fortalece na contração, sem relaxamento. Durante muito tempo a palavra "relaxada" era vista como descuidado, desleixado, irresponsável. Ainda sentimos assim, tanto é que só conseguimos relaxar em situações propícias ao relaxamento. Nunca podemos relaxar no trabalho, somente no lazer. Isso não é saudável. O relaxamento é um pré-requisito importante à qualidade de vida. Costumo ensinar aos meus pacientes que passam por situações conflituosas expirarem profundamente, mais do que inspirar. A expiração esvazia, faz ceder, liberta. Toda embarcação navega com mais desenvoltura ao estar a favor do vento. Sem vento não há mudança. Sem um respirar correto não há fluxo de transformação. Isso fica claro quando nos assustamos, ficamos em posição de inspiração, ombros rígidos, mãos fechadas de tanto socar o inimigo imaginário.
Mudar é difícil para quem teme se soltar: "O que será de mim se eu ceder?". Então mantem a postura. O que está "posturado" é fixo, sem movimento, sem vida. É como os abajures. Lembro-me de um amigo dizer que um dia sua tia de setenta anos bateu em sua porta e disse que vinha passar uns dias com ele. Não havia nenhum contato entre ambos. Resolveu deixá-la ficar, e ela nunca mais foi embora. Ele não tinha o que conversar com ela. Não sabia criar vínculos. Ele trabalhava muito e não percebia a presença dela. Sempre que chegava a casa à noite ela estava assistindo televisão na mesma postura. Até o dia em que ele chegou e não a encontrou na postura de costume. Ele sentiu uma grande angústia, correu para ver se algo havia acontecido com ela, e quando chegou à cozinha percebeu que ela estava simplesmente fazendo um chá. Então, ele percebeu que ela já fazia parte do mundo dele. Sigmund Freud conjecturava que a introjeção do objeto no ego facilita o abandono do mesmo.
Assim fazemos com tudo e com todos. É importante abandonar, deixar ir, para continuar. Enquanto vivemos tem de existir movimento anterior. A regra da vida é o desequilíbrio e não a postura. Mesmo que não estejamos ainda muito convictos com esses conceitos, temos de saber que o equilíbrio newtoniano está circunscrito ao mundo da matéria inerte, e não a matéria orgânica. Baseado nisso a importância de aprendermos com os bambus; temos de ser flexíveis. Os bambus se curvam ao vento para posteriormente retornarem esguios e sublimes.
Os bambus se curvam ao vento para posteriormente retornarem esguios e sublimes.
ResponderExcluirNós nos curvamos ao abandono de nossos velhos cascos, termos condições renovadas e ajustadas de poder usar uma nova vestimenta proporcionada por mudanças dando permissão de adormecer este domador de realizações"o medo", libertando e mofificando sem apelos para lutar e vencer