A chuva fina com o contraste
do verde da mata parece neve de Natal. As árvores balançam ao vento e a chuva
faz manobras incríveis, caindo e subindo nas rufadas de ar fresco. O cheiro de
terra molhada é um maná. Todos os sons se calam e o silêncio daqui de baixo se
confronta com o som das folhas lá de cima. São árvores centenárias, vivas e
pulsantes. Queria saber o nome delas, mas o conhecimento me cansa nesta época. Prefiro
sentir somente. Fim de ano não é para pensar demais, agora é sentir o que o
vento fala, o que a sinfonia dos sapos expressa, e o que os grilos cantam.
Tenho tudo isso perto de mim porque me emociono. Sempre que ouço os diversos
sons da natureza me regozijo com a minha capacidade de sentir.
Hoje eu li no
livro de Anodea Judith, “Eastern body, western mind”, algo que sei ser verdade:
“Temos de sentir o nosso corpo para sentirmos nossas emoções, a fim de aprender
a interpretar suas mensagens”. É fundamental não nos perdermos de vista. O
corpo é a maior referência que temos para nos conhecermos melhor. É importante nos
abrirmos para as sensações. Com elas, no entanto, surgem emoções carregadas de
lembranças. Porventura seja por isso que muitos não gostam do Natal. As emoções
foram fortemente marcadas em seus corpos.
O cheiro de Natal é um
convite a relembrar a esperança da criança interior. Eu não sei como as
crianças hoje em dia sentem, mas lembro-me de minha criança. Quanto mais velhos
ficamos, mais idades nós temos para nos fazer ser. Nada morre em nós, nem mesmo
o que queremos esquecer. Não tenho nada para esquecer, isso é um ganho. Mesmo se
tivesse alguma situação pela qual eu pudesse me envergonhar eu riria dela. Afinal
de contas, temos de aprender a dar novos significados para a nossa história. Se
o passado é somente um ponto de vista perdido nos recantos de nossas sinapses,
então podemos brincar de reinventar nossa memória.
Se eu não tiver nenhuma
lembrança é porque ela não tem importância. E se me recordo de algo é porque
estou sendo chamado a refletir. Por que não criar novas memórias? Nosso cérebro
é fantástico, ele se reinventa caso o nosso eu queira assim fazer. Por exemplo,
lembro-me de não existir festa de Natal na minha casa. Meus pais não tinham
muitos recursos. Eles sempre falavam que os produtos natalinos eram caros. Então,
meia-noite, eles já estavam dormindo. Poderia me entristecer com isso, mas me
lembro de que eu ficava sozinho na janela até meia-noite, olhando estrelas e
agradecendo simplesmente por existir. Eu tinha um sentido de religação com o
Cosmos muito forte. Isso me deu contorno. Hoje sei ficar sozinho, porque descobri
que sou a minha melhor companhia. Se existem outras pessoas ao lado, elas se
tornam os meus convidados. Aprendi a não me tornar refém dos outros. Isso quer
dizer que qualquer situação que ocorra comigo sou eu mesmo quem a criou. Eu sou
o personagem de minha própria história.
Apesar de o Natal não
acontecer em minha casa de infância, não tenho necessidades de ter o que não
tive. Aprendi a ter menos, o que foi um grande ganho. Não podemos perder o que
não temos. Isso é sabedoria.
Essa reflexão é só
para reforçar que tudo depende de como olhamos para o nosso tempo. Todos
possuem a liberdade de escolher estar bem, buscando sentir o melhor dentro de
cada experiência vivida. Mais uma vez ressalto a importância de que o que
sentimos faz parte daquilo que vivemos. Se quisermos, podemos sim criar um
mundo melhor para nós. Sendo assim, sempre que uma experiência surgir, seja ela
boa ou ruim, somos nós a escolher como senti-la.
Nesta época é muito
bom saber escolher o melhor, independentemente de termos a capacidade de
comprar ou não. O fundamental é como vamos pintar a linda paisagem para o nosso
Natal.
Pedro que maravilha , fiquei emocionada com tudo que acabei de ler , isso já se tornou fato em minha vida todas as vezes que entro no seu blog e me envolvo com seus sentimentos descritos , vc tem o poder de mover minhas emoções sempre de forma diferente e isso é maravilhoso para o meu ser.Parabéns felicidade em pessoa.
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