29 de fevereiro de 2012

Um homem dedicado



O homem cansado de muito trabalhar. Pedia água para se refrescar após tanto se esgarçar em prol do labor. Ele não tinha o motivo senão o pagamento raso. Não sabia aonde chegaria. Talvez nunca chegasse a um lugar comum. Ele sabia que era diferente dos outros, àqueles que tinham a chance de estar refestelado na poltrona de couro após um dia de trabalho. Após um dia inteiro no escritório banhado pelo ar condicionado cuja pele se resfria constantemente. Porém ele não podia ter o luxo da vida. Não tinha o direito de sentir o corpo como os outros sentiam. Mesmo tendo uma anatomia semelhante, existia algo que o diferenciava dos outros, algo que ia além da compreensão humana. Ele era o peão, como a peça de xadrez que tem menos valor e, portanto, pode ser sacrificada. O homem tinha de exercer sua função como máquina. Ele era pago para fazer o que ninguém queria, nem mesmo ele. Não tinha alternativa. Ele tinha de por o betume na estrada em dias de muito calor. Um serviço baixo, sujo e desconfortável. Ele tinha de ganhar a vida, precisava sobreviver. Por uma falta de sorte, ele acreditou na natureza da procriação, teve filhos. Agora tinha de dar conta. Era responsável e consciente de sua tarefa como homem e pai. Por isso devia fazer o que fazia. Não tivera a chance de estudar. Ele, entretanto, sabia que o triste destino tinha uma justificativa. Isso, de certa maneira, o acalentava, apaziguava seus desejos mais altos e frustrados. Pelo menos a culpa o deixava mais complacente com o seu sofrimento. Um homem sem sentido é um homem nu, deixando a deixa para os outros exercerem a humilhação.

O grande problema era que ele questionava a própria vida. Ele mantinha a fé de que um dia a vida modificaria, mas ele estava enganado. A vida nunca deu a ele nada além do suor contido nos dias quentes e as lágrimas do desejo. Mas, ele se sentia melhor no inverno. Acreditava que era um presente lá de cima, se sentia mais confortável. Ele ria mais e brincava com os amigos nesses dias, o que não ocorria no verão.
Sempre se esforçou para que os filhos tivessem um destino melhor. Não sabia se alcançaria a esperança. Porventura a vida pudesse lhe dar uma trégua. Não queria se distrair através da bebida, tinha conceitos rígidos, coisas que aprendeu na igreja. O pai dele tinha tido a mesma profissão. Ele foi um grande trabalhador e bom pai de família. Ele nunca entendeu por que nos meses de janeiro e fevereiro o pai modificava o comportamento; ficava mais rígido, introspectivo, sisudo. Agora sabia. A vida ensinou que final feliz nem sempre é o que se consegue na vida real. O que é real? Não sabia. Ele só queria cumprir com o seu dever, mais nada. Isso era o suficiente para ele.

Ele continua vivendo em dias quentes, trazendo para si mesmo o aprendizado de que um dia tudo fará sentido para seus filhos. Para ele, mais nada importa, a não ser os outros. 

Um comentário:

  1. Anônimo13:44

    Porem um lindo dia de sol, o homem
    enxergou uma linda flor, bem ali, naquele
    lugar duro e quente, do qual, ele nada mais esperava receber, a não ser suor e cansaço.
    E ele então, olhou pro ceu e disse:
    -Obrigado Pai, pois mesmo aqui aonde
    pensei que o Senhor nem me enxergava, vejo Tua mão, sei que cuidas de mim.
    Bjos

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