30 de julho de 2012

A chave da possibilidade






Sou um desconhecido para mim mesmo. Sou um estrangeiro numa terra conhecida. Por estar situado no meu corpo não tenho lugar para ir. Se eu estou aqui é aqui mesmo que tenho de estar. Não há direção senão em mim mesmo. As pessoas se iludem em querer viajar, conhecer lugares diferentes, ter experiências novas, regozijar-se com a distração. Se eu sou quem eu sou em qualquer lugar, e levo comigo a minha percepção, não existe lugar para estar que não seja aqui e agora. A antecipação do futuro ou a visita ao passado são ilusões marcantes em cada um de nós. Só posso pensar em mudar perspectivas começando em mim, pois tudo o que sinto já está pronto para eu sentir.

Já viajei, não digo muito, mas já fiz algumas travessias. Em todos os lugares sempre estive em mim, nunca me abandonei. Já quis experimentar o que é não ser eu mesmo, me desligar de minha história, mas não tive sucesso. Já quis me enganar, sem conseguir fazê-lo. Fico impressionado com as pessoas que só por estarem em lugares incomuns se sentem diferentes por isso. Como deixar de ser um indivíduo para ser um personagem geográfico? Acho perigoso deixar que o meio me modifique. Isso é como perder a bússola, é me confundir com aquilo que não me pertence. Eu não posso acreditar que sou mais por ter tido experiências que outros não tiveram. Cada um coleciona no álbum de fotografias imagens únicas e intransferíveis. Cada um possui sua própria biografia. Ninguém vive a vida do outro. Ninguém é melhor por conseguir o que os outros não conseguiram alcançar.

Se a minha intenção é mudar, em decorrência do tédio da repetição cotidiana, então terei de atravessar portas da experiência. Preciso estar atento para que a ação seja efetiva e reveladora, a me conduzir a outro ponto. Cada porta que se abre é uma nova descoberta. Porém, nem sempre ela aparece no caminho. Pode levar anos sem surgir uma nova porta. E, quando surgem, cadê as chaves? Só posso atravessar a porta da descoberta se tiver a chave para abri-la. Carrego chaves aguardando encontrar a porta certa para abrir. Ao encontrar uma porta nem sempre tenho a chave. A incoerência entra a chave e a fechadura é uma constante. Isso me faz seguir. Na trajetória da busca também existem significados, nem sempre consigo fazer a leitura, decifrar os códigos. Cada porta habita em mim, para que eu aprenda algo novo. Por assim dizer, cada porta é uma possibilidade. Ao abri-la alcanço o provável.

Em certas ocasiões a porta aparece e tento abri-la. O desejo é ver novas paisagens. A chave entra mas não vira. Emperra. Tenho comigo inúmeros tipos de chaves e tamanhos. Só posso saber aquilo que se desvela aos meus sentidos. O antes é conjectura. Sou escravo de meus sentidos porque não sei ser o que eu sou sem eles. Eles me dão referência de localização. Porque, no fundo, estou e estarei sempre comigo mesmo.

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