7 de julho de 2012

A dúvida como caminho




A dúvida sempre me seguiu, participando ativamente de minha consciência crítica. Desde a infância queria saber mais sobre tudo. Não era fácil acreditar em qualquer coisa. Sabia que o invisível comandava grande parte de meu comportamento. Tinha a ideia infantil da magia. Ela foi importante porque me conduziu a belas paisagens e grandes feitos. Estava na ordem do irreal. Minhas fantasias criaram em mim um coração puro. Era a atitude imatura a me propiciar a ingenuidade. Ao envelhecer, descobri que a magia é pura ilusão. Retirar um coelho da cartola como os mágicos fazem é o mesmo que abrir os olhos pela manhã e ver o teto do meu quarto. Nada é tão irreal quanto viver. Isso para mim deixou de ser dúvida para ser realidade. Não sabemos até hoje o que é a realidade. Ninguém pode afirmar o que é possível e o que é impossível se somos formados de energia. Então, o que é energia?
Em ciência, energia (do grego έν dentro, εργον trabalho, obra, dentro do trabalho) refere-se a uma das duas grandezas físicas necessárias à correta descrição do inter-relacionamento - sempre mútuo - entre dois entes ou sistemas físicos. A segunda grandeza é o momento. Os entes ou sistemas em interação trocam energia e momento, mas o fazem de forma que ambas as grandezas sempre obedeçam à respectiva lei de conservação.
Energia é aquilo que se transforma. Ou seja, nada pode contê-la. Num instante é uma coisa, noutro momento outra coisa. Como agora que escrevo essas palavras, o meu computador é capaz de materializar minha abstração. Você aí que está lendo, cria novas formas de entendimento para as minhas palavras. São símbolos inter-relacionando com símbolos.
Obviamente, na infância, eu não tinha recursos para entender muita coisa. Hoje parece que ainda continuo lá nos primórdios de minha simples vida. Será que a nossa essência pode ser modificada? Acredito muito na mudança, mas existe algo em nós que não muda. Penso que a essência não pode modificar, ela é como o rio. Ele muda em sua trajetória, muda em fluxo, mas as águas continuam as mesmas. Nossos caminhos são vários, perspectivas diversas, porém sempre trazemos algo conosco.  Este algo, em minha personalidade, é duvidar de tudo, até de mim mesmo. Durante anos e anos pesquisei sobre a imagem do corpo, o fantasma a qual carregamos em nossa mente. A ideia de que temos nós mesmos como uma referência estática não significa que seja verdadeira. Trazemos uma bagagem histórica gravada em nosso organismo, de tal sorte que ele tem vida própria, além de nossa pobre capacidade de perceber.
Essa semana eu participei de uma mesa redonda num evento sobre medicina natural. Estavam compondo a mesa pessoas bem mais velhas do que eu. Elas fizeram afirmações que eu duvido bastante. Muitas vezes me concentro em não ser intolerante com as diferenças, pois minhas resistências me geram conflitos. Eu duvido, por exemplo, que a cura possa surgir fora do organismo. As pessoas possuem técnicas e teorias sobre uma alimentação saudável, exercícios físicos e energéticos, e assim por diante. Mas, em minha percepção, o organismo vivo tem a sua própria dinâmica. Ele ditará as regras, as quais fogem a nossa compreensão.
A minha fala no evento foi sobre isso. Eu não acho que possamos interferir na reorganização de um organismo que se afastou muito tempo da sua estrutura básica de saúde. Eu trabalho com pessoas mais velhas. Elas podem criar uma atitude destrutiva durante anos que passam a desacreditarem nelas mesmas. Sendo assim, o caminho de volta pode estar perdido. Entretanto, nem todos ficam à deriva. Eu me impressiono quando alguém consegue se organizar novamente, obtendo uma condição saudável. Não creio que nenhum remédio, nem tampouco terapia, possa recolocar determinadas pessoas no rumo saudável. Embora eu saiba que o organismo vibre pela vida. Para isso existem escolhas não conscientes. O corpo é como uma nave a nos conduzir em direção a lugares desconhecidos, a fim de aprendermos mais, para evoluirmos. O que eu posso fazer como terapeuta é somente organizar a estrutura de tal modo que ela se reorganize sozinha. Não sou o detentor da cura. É muita pretensão achar que sou o curador. Mesmo porque a cura é uma palavra forte. Ainda tenho dúvida se podemos nos curar, senão através do evento da morte. Morrer é um processo como viver. Entretanto, isso ainda se mantém como dúvida para mim.   

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