2 de julho de 2010

Tea for Two


Estar ao lado. Simplesmente compartilhar uma xícara de chá. Não importa o gosto, e sim o sabor da companhia. É o outro a nos dar sentido. Porque o outro é a face, a projeção de nossa subjetividade. Muitas vezes, queremos encontrar Deus, e nos esquecemos de que Ele é energia oniciente. Ele está em toda parte. Como diz o Tao:

        Se você vir o rosto de deus,
você verá o mesmo rosto
em todo o mundo que encontrar

A psicologia já havia nos ensinado sobre a projeção. Hoje, a neurociência confirma isso em laboratório. NADA captamos (perceptio), e sim projetamos. No livro “A mente e o significado da vida” eu mostro que a realidade é como uma tela de cinema, e nós somos os canhões de luz projetando aquilo que queremos ver. Sem dúvida, a projeção é inconsciente, por isso não entendemos muito bem. Como escreveu Thorwald Dethlepsen:

Tudo aquilo que se encontra além dos nossos limites
de ressonância é imperceptível para nós e, portanto,
inexistente.

O outro nos fornece um entendimento de nós mesmos. Portanto, o chá é melhor quando se é repartido. Sentir o dois em um, e poder perguntar: “Você gostou?”. Essa pergunta simples vem com a certeza de não estar sozinho. É engrandecedor não estar só. E como estamos sozinhos, mesmo acompanhados. Não devemos nos esquecer de que o nosso maior anseio é compartilhar o alimento do afeto.

Ontem escutei de uma pessoa que atendo: “Gostei de chá até o dia em que não tive mais a pessoa amada para compartilhar”. A pessoa amada faleceu, e com ela o chá também morreu. Hoje, a caixa com os chás de diversos sabores ficou a mofar na despensa. Perdeu-se o sabor na travessia do tempo. A união de sentidos se desvaneceu. Enfim, o gosto representa comunhão, por isso sentimos prazer ao dividir a comida.

Pense nisso na próxima refeição que fizer junto a alguém. Saiba valorizar a presença do outro como sendo você mesmo.

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