Ultimamente tenho estado irritado, talvez seja pela demanda de trabalho. Fim de ano chegando. A sensação é de que o peso de todo o ano vai se acumulando nas minhas costas. Não sei se todos se sentem assim.
Neste ínterim, resolvi arrumar as pedras do caminho. Sim, as pedras da entrada de minha casa estavam soltas. Não chegava a ser um impedimento, mas tive de chamar um pedreiro para cimentá-las.
Sinceramente não sei como alguém pode gostar de obras. Lembro-me de uma vizinha mais velha que dizia: "Obra é a minha vida”. Assim que ela terminava uma, resolvia desmanchar para recomeçar. Ela tinha muitas pedras soltas no caminho. Os buracos precisavam ser preenchidos.
Quem gosta de obras tem de ter os dias soltos. Eu não tenho. Mesmo quando não estou fazendo nada faço alguma coisa, e isso é tudo para mim. Tenho de me exercitar ao ócio, ele é importante. Ao lidar com pessoas mais velhas, vejo a dificuldade de muitos em aceitar não ter nada para fazer. O tempo livre é um exercício que deve ser iniciado mais cedo na vida de uma pessoa. Não aprendemos isso na escola, mas deveríamos. Muitos se sentem inúteis porque querem fazer algo, mas não sabem o quê. Não fazer é também uma ação importantíssima, pois nela podemos nos recriar, solucionar os enigmas do passado, aprender a estar sozinho. Sempre digo que estar sozinho e se sentir sozinho são coisas totalmente diferentes. Muitos se sentem sós porque rejeitam a sua própria companhia. Não aprenderam a se relacionar com elas mesmas. Por isso não concordo com a expressão: "Mente vazia, oficina do diabo". Temos sim de deixar espaços vazios para serem preenchidos com as novidades. Algo que ainda não fomos capazes de experimentar. Temos a tendência de viver anos e anos repetindo padrões conhecidos. Portanto, preencher buracos com novas experiências é um meio de criar novos espaços de pertencimento. Desse modo, a solidão não nos sufocará.
Ontem atendi uma mulher de oitenta anos que me dizia que o insuportável na velhice é não ter nada para fazer. Ela faz crochê, mas odeia. Ela o faz para se distrair. A distração não é a melhor opção. Ao se distrair ela deixa de estar com ela mesma, para estar fora, alienada de si. Todos nós sempre estamos sozinhos, os outros são somente espelhos. Sendo assim, as pessoas com as quais convivemos são importantes, mesmo aquelas que nos irritam. Sem elas não nos conheceríamos. Elas nos dão a capacidade de nos enxergarmos melhor. A minha vizinha que gosta de obras, na verdade é o oposto de mim. Ela é uma oportunidade para eu aprender a fazer coisas que resisto em fazer e, consequentemente, sofro por isso. Ela me mostra que também sou capaz de resolver aquilo que não conheço. Uma chance de experimentar, de sair de minha zona de conforto, de abandonar a repetição de meu cotidiano.
Agora sei por que detesto ter de arrumar as pedras do caminho. Preferia nunca ter de precisar arrumar nada. Porém, a vida é mais sábia. Ela me incita ao aprendizado, me força a sair de mim para buscar novas alternativas.
"Todos nós sempre estamos sozinhos, os outros são somente espelhos. Sendo assim, as pessoas com as quais convivemos são importantes, mesmo aquelas que nos irritam. Sem elas não nos conheceríamos. Elas nos dão a capacidade de nos enxergarmos melhor."
ResponderExcluirFoi muito bom ler seu pensamento hoje.
Acredito que assim como você as pedras desse meu ano estão pesando sobre minhas costas, mais do que nunca(risos).
E minhas costas gritando para que eu as arrume, as deixe pelo caminho.
Felismente com o final do ano, parece ocorrer uma espécie de esvaziamento interior, um escoamento como se esse peso pudesse ser sugado ralo abaixo pela vida...
Abrindo espaços vazios que deverão ser preenchidos com novidades e a esperança de que o próximo ano seja mais leve, que flua melhor com um pouco mais de tranquilidade...
Grande abraço Pedro.
Seu post hoje me lembrou uma canção que gosto muito! De Oswaldo Monte Negro-Só
ResponderExcluirDepois te envio um video pelo Orkut.
Vou colocar um pedacinho da letra.
Abraços
Vontade de ser sozinho
ResponderExcluirSem grilo do que passou
A taça do mesmo vinho
Sem brinde mas por favor
Não é que eu não tenha amigos, não
Não é que eu não dê valor
Mas hoje é preciso a solidão
Em nome do que acabou
Vontade de ser sozinho
Mas por uma causa sã
Trocar o calor do ninho
Pelo frio da manhã
Valeu a orquestra se valeu
Agora é flauta de Pã
Hoje é preciso a solidão
Com a benção do Deus Tupã, ô menina...
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...E todo mundo é sozinho
E ai de quem pensar que não
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