24 de junho de 2011

Mudar é sair da zona de conforto




Ninguém muda sem se sentir desconfortável. Adoramos inventar história para nós mesmos com o intuito de nos sentirmos renovados, mas no fundo não tem outro jeito de mudar a não ser pelo desconforto. Ao encontrarmos com alguém na rua, que não vimos há muito tempo, perguntamos sobre as mudanças: “O que tem feito?”, “Quais são as novidades?”. As pessoas costumam dizer que estão trabalhando muito, e que há muita novidade, mas não há tempo para nos contar ali. Não podemos esquecer que estamos atravessando a cultura tecnológica, em que tudo muda rapidamente. Não ter novidade é como estar estagnado, o que não é uma boa imagem social. Terminar uma faculdade, mudar de emprego, ter mais dinheiro, finalizar projetos, não quer dizer que você está mudando profundamente.
Ontem escutei uma história interessante. Um homem de 30 anos de idade foi comprar um brinquedo para ele, “um game”, e teve de disputar o último da loja com uma criança que também queria o mesmo jogo. Ele saiu vitorioso, e a criança frustrada. O menino de 30 já está casado e já é pai de um bebê, mas continua sendo a criança em busca de um novo brinquedo. Ele não mudou ainda, e talvez não mude jamais. Tendo um filho pequeno, ele talvez reforce o seu padrão de menino por muitos anos. As pessoas acham engraçado, eu vejo como uma questão de retardo no ciclo de vida.
Enquanto estivermos buscando caminhos mais fáceis ainda estaremos repetindo padrões conhecidos. Temos receio do que podemos encontrar na próxima esquina, então pisamos no freio. Queremos ver o que tem do outro lado da curva, mas não conseguimos enxergar. Olhar pelo retrovisor é mais confortável e simples do que olhar para frente. Enquanto continuarmos desse modo, não avançaremos. Será que precisamos avançar?  
Todo o nosso sistema orgânico se organiza de modo a não gastar muita energia. Mudar é consumir mais energia do que o habitual. E para tanto é preciso força de ação. No movimento existem novas possibilidades de reorganização de nossos padrões. Mudar é dar um salto no desconhecido e ter de arrumar uma nova estrutura. Isso é aprender: sair de um modelo para o outro e seguir adiante. Nascemos para evoluir, estou certo?
Como professor sempre penso no que os alunos conseguem aprender em minhas aulas. Muitos já estão viciados em seus padrões, e não querem conhecer, somente reconhecer o já experimentado, com a idealização de que serão reconhecidos no futuro como bons profissionais. O pior é que eles se frustram, acreditando que ninguém deu uma oportunidade para eles. Atualmente está claro que ninguém muda ninguém. O que pode mudar é a consciência ativa e atenta de cada um. É um processo individual e intransferível. Sem a mente reflexiva não há mudança, só repetição.
Estou desenvolvendo um estudo para compreender melhor isso. Tive uma família que nunca gostou de mudanças. Sempre almejaram a zona de conforto, e esperaram cair do céu, ou melhor, em forma de misticismo. Ou seja, uma família fundamentada no medo de dar um passo em falso. Eu acabei por nascer diferente e, por isso, dei muito trabalho para os meus pais. Eu queria experimentar o desconhecido, sem preconceitos. Nunca suportei os preconceitos, apesar de saber que eles (formados pelos meus pais) ainda estão à espreita, prontos para me dar um bote.  O medo sempre esteve ao meu lado, me fazendo crer que ele é simplesmente precaução. Consegui muitos feitos, mas agora percebo que a ação tem de ser maior para continuar o risco. Não quero muito. Ao envelhecer mais e mais temos de saber que um padrão uma vez aprendido ele continuará a espera de uma oportunidade para se tornar vívido novamente.
Não se pode abaixar a guarda, somos viciados em nossas emoções.
Esse novo estudo é sobre isso, como sair de padrões aprendidos que não nos facilitam ir adiante, pelo contrário, nos leva a estar onde sempre estivemos. Muda-se a paisagem, mas a história continua a mesma. O organismo como um todo se vicia em padrões químicos. Estes, por sua vez, querem se manter. Por isso, se temos problemas na infância com o pai, teremos problemas com autoridades; se temos problemas com a mãe, teremos problemas com a entrega. Obviamente isso não é assim tão simples, porque as nossas experiências se complexificam ao longo dos anos da vida, até não sabermos mais o que deu início a um problema.
O que posso aconselhar agora para mim mesmo é: “Preste atenção, e não acredite em tudo o que você tem como certeza. Duvide de você mesmo para ir além. Saiba que terá de questionar o conhecido, e não se preocupar tanto com o desconhecido”.  

 

 

5 comentários:

  1. Olá pedro!
    Adorei o texto acima, inclusive postei o link em um fórum da minha Pós-graduação onde este assunto é pauta, usei ele para confirmar o conceito que tenho sobre o assunto.
    Abraço,
    Valéria Ximenes

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  2. Olá Pedro!

    Sou colega da Valéria Ximenes e atambém adorei o seu artigo, gostaria inclusive de saber maiores informações sobre o estudo que você está realizando.

    Vou utilizar o seu artigo como exemplo numa consultoria de RH que estou iniciando com um cliente.

    Abraços,

    Carolina Silveira

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  3. Anônimo22:53

    Oi Pedro, me encontro em um desses padrões da zona de conforto, principalmente com a família. Ao buscar sobre isso na internet, encontrei seu texto, que me tranquilizou de certa forma, afinal, tenho pra mim que ninguém vai fazer minha vida, ninguém vai me fazer feliz e nem tomar as rédeas de minhas atitudes, a não ser eu mesma. O difícil mesmo, é a coragem...
    Mas acredito que chegarei lá.

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  4. Anônimo19:24

    Muito bom o texto, vai ajudar muito na minha pesquisa - Mudanças organizacionais nos escritórios de contabilidade


    Parabéns

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  5. Anônimo07:32

    Brilhante sua abordagem. Parabéns.

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