13 de outubro de 2011
feliz dia das crianças
Na sala de aula havia quinze crianças, sendo oito meninos e sete meninas, e quarenta carteiras enfileiradas. As crianças estavam posicionadas em três fileiras, com cinco crianças em cada uma, à frente da mesa da professora Silma.
Nas carteiras da frente sentava-se Pedro, Kleber e Caio, os alunos com deficiências. O Pedro é autista e o Kleber tem Paralisia Cerebral, Caio também têm problemas, mas ninguém sabe o que é.
A professora Silma estava sentada ao lado de Pedro, de costas para a turma. Então, em um retumbante momento disse para a turma:
- “Peguem suas canetinhas e cubram o círculo. Depois com a régua façam uma cruz dentro do círculo e façam desenhos diferentes em cada pedacinho do círculo”.
As crianças começaram a pegar as canetinhas, depois a régua. Ela desenhou um círculo no quadro com uma cruz no centro e as crianças que já manuseavam a folha, começavam a desenhar. Kleber desenhava fora do círculo e Caio andava em volta da fileira de carteiras. Silma voltou para o lado de Pedro, desenhando enquanto segurava a mão dele. Um aluno lá atrás disse:
- “Tia, minha folha rasgou!”
- “Não tem problema porque vocês vão cortar em volta do círculo” - a professora disse alto.
As crianças começaram a procurar as tesouras em suas mochilas e Mariana perguntou:
- “É pra cortar?”. Ela estava empolgada com a atividade.
A professora respondeu enquanto ajudava Pedro:
- “Só depois de desenhar. Vocês já desenharam?”, ela perguntou com a cabeça baixa.
- “Já!”, as crianças responderam em uníssono.
- “Então podem cortar em volta do círculo e em cima das linhas no meio do círculo.”, a professora afirmou.
Algumas crianças desenhavam, outras cobriam o círculo, algumas faziam a cruz no meio do círculo e outras já cortavam. Silma acompanhava Pedro, Kleber e Caio. Com Pedro ela desenhava, segurando o lápis na mão dele, enquanto os outros ela só observava, e falava:
- “Caio senta pra desenhar!”,
- “Kleber, é pra desenhar dentro do círculo”.
Kleber desenhava figuras desconexas do lado de dentro e também fora do círculo. Em seguida pegou a tesoura e começou a cortar a folha toda.
- “As partes recortadas devem ser coladas nesta outra folha que estou entregando, que tem uma linha em cima para vocês colocarem os nomes.” Silma continuava falando em voz alta.
A professora distribuiu uma folha e pediu a uma aluna para que distribuísse as colas.
- “Colem na mesma forma do círculo, mas não encham de cola.”
- “Ih, tia, colei no canto!”, Ricardinho espantado falou.
- “Deixa pra lá! Caio, é pra escrever o nome em cima da linha! Apaga e escreve de novo! Kleber, você também!", desanimada ela gritava.
- “Tenho que ajudar o Pedro, porque você sabe, ele não faz nada.”, Silma olhou para longe.
Dirigiu-se para a turma e gritou:
- “Agora crianças, em cima do círculo vocês desenhem um sol, do lado do sol, desenhem duas nuvens. Sabe como é nuvem? Aquilo fofinho.”
A professora foi ao quadro e desenhou uma nuvem.
- “Perto das nuvens, desenhem três passarinhos, como vocês quiserem, o passarinho é de vocês. Embaixo do círculo, desenhem quatro pessoas.”, ela continuou.
As crianças desenhavam, cortavam, colavam, andavam pela sala, iam nas carteiras dos outros, e Silma levantava as folhas de Caio e Kleber mostrando a atividade feita de forma desordenada, movimentando a cabeça em expressão de negação.
- “Tia, quem eu desenho?”, Kleber perguntou.
- “Quatro pessoas como a mamãe, o papai, o irmão, mais alguém...”, a professora respondeu.
- “É pra desenhar a família?”, Ricardinho perguntou.
- “Não, eu falei pro Kleber porque... ele não sabe quem ele gostaria de desenhar.”, ela respondeu irritada.
Repentinamente Silma disse que Pedro queria ir ao banheiro, levou-o até a porta e falou alto:
- “Alguém pode levar o Pedro pra fazer xixi?”, direcionando-o para fora da sala.
A professora retornou para a sala e continuou com a atividade. Passado algum tempo, bateram na porta informando que Pedro não queria retornar para a sala e que estava andando pelo pátio. Silma foi em direção à porta, olhou para os alunos, e disse:
- “Fiquem quietinhos que eu vou buscar o Pedro. Fiquem quietinhos e façam uma surpresa pra mim. Eu já volto!”, e saiu.
Algumas crianças se aproximaram uma das outras e falaram:
- “Vamos cantar parabéns pra tia?”
- “Por que é aniversário dela?”, alguém perguntou.
Ninguém respondeu, mas todos falavam juntos euforicamente:
- “Vamos cantar! Vamos cantar!”.
Silma retornou com Pedro e, ao entrarem na sala, as crianças começaram a cantar ‘Parabéns pra você’. Silma ficou à frente deles, de braços cruzados e quando terminaram perguntou exausta:
- “Por que vocês cantaram parabéns pra mim se não é o meu aniversário?”
- “Ué, a tia não pediu uma surpresa?”, Ricardinho respondeu com uma pergunta.
- “Não essa! A surpresa é vocês ficarem quietos!!! Tá bom, tá bom.”, ela já não largava a mão de Pedro.
- “Tia, o Otávio tá comendo cola!!”, Ronaldo gritou apontando para o Otávio.
Silma foi para o fundo da sala e pegou Otávio com as mãos cheias de cola, chupando os dedos. A essa altura, Pedro já estava com a cabeça deitada na carteira querendo dormir. Ele esfregava os olhos constantemente, e Silma falou pra ele:
- “Pedro, não dorme, olha pra tia, vem cá me ajudar...”, Pedro deitou a cabeça na carteira e dormiu. O sinal tocou e as crianças começaram a se levantar pra sair.
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