7 de janeiro de 2012

O fim do começo e o início do fim




A paisagem está tão comovente que as palavras ficam pequenas. Daqui onde estou eu assisto a um espetáculo musical. As folhas sendo dedilhadas pelo vento. Como posso escrever com tantos ritmos fora de mim? Sou absorvido pela beleza e tranquilidade neste dia pós-chuva de ontem. Apesar de estarmos no verão, a noite foi fria, lua encoberta, obrigando-me a me munir de um cobertor também.

Vivemos os primeiros dias do novo ano. Tudo igual a todos os outros, mesmo que achemos que os dias são diferentes, nossos padrões passados nos arremessam para lugares conhecidos.

Ontem falava com uma pessoa que tentava me convencer do fim do mundo. Essa história de fim é bacana, dá movimento às elucubrações das pessoas. As pessoas estão ardentemente desejosas de novidades, nem que seja dar um fim ao mundo. Com a esperança, é claro, de recomeçar. Acreditam que se algo der errado é só apertar as teclas do computador (ctrl-alt-del) para reiniciar o programa.

Não acho que vamos terminar assim tão fácil. Ontem falava com a minha filha sobre a teoria que a pessoa havia me contado. Ela disse que teremos de subir mais de 2000 metros de altitude, ficar longe de fios de eletricidade. Pensei onde seria esse lugar. Sempre que alguém traz um conto, traz também uma paisagem mental para o seu ouvinte. Fiquei a pensar que se for assim, não tem jeito, não conseguirei ficar sem eletricidade, sou um ser elétrico por natureza. Minha filha, por sua vez, me disse que seria legal, porque assim não precisaria sofrer a perda de sua família, todos iriam de uma só vez. Acho confortador esse argumento de ir todos juntos. Como se fossemos para algum lugar. Estamos condicionados a acreditar que não vamos acabar nunca, o nosso inconsciente nos alimenta com sentimentos de imortalidade. Não digo que seja impossível o mundo findar, mas ainda acho improvável. São coisas diferentes.  

Daí eu me lembrei do filme “Melancholia”, de Lars Von Trier. Para quem não o viu, acho que vale a pena. Não espere muita coisa em termos de efeitos especiais, pois o filme é simples, porém com momentos de reflexão. Não vou contar a história aqui para não estragá-la. Não quero ser o chato que já quer antecipar o final do filme só para ser aplaudido sozinho. Bem, apenas vou contextualizar. Se eu não o fizer estarei sendo injusto. O filme conta a possibilidade de um choque do planeta Melancholia (que dá título ao filme) com a Terra. O filme discorre com diálogos entre os personagens com suas histórias familiares paralelas.

Valeu a pena assistir porque agora sei exatamente o que fazer caso a Terra seja ameaçada a desaparecer. Sabe o quê? Nada. Gostaria de estar em casa tomando uma taça de vinho, sem querer intuir saídas, sem rezas ou pregações. Gostaria simplesmente de fazer como as copas das árvores que agora vejo daqui de meu jardim. Quero balançar, indo e vindo no ritmo do fim de tudo. Se eu tiver a chance de embalar o fim com uma música, escolheria esta: http://www.youtube.com/watch?v=1rjnnx4h0RU

Bem, se o fim ainda não chegou, e o Sol já se foi novamente. Quero terminar este post com um pouco de texto antigo que acabo de encontrar por aqui no meu computador. Coincidência significativa.

Deixo o Vento levar tudo o que havia conseguido.
O Vento é força incompreendida.
Não sei o que o Vento quer.
Apenas sei que ele quer me levar.
Nada ficará. Tudo se perderá ao vento.
Não precisamos de muito para sobreviver.
Quem decide não somos nós. É o Vento.
Então não preciso me preocupar, nem me apavorar. Estou nas asas do Vento.
Só preciso respeitá-lo, reverenciá-lo por sua sabedoria.
O Vento é divino porque é eterno em essência.

  

Quando tudo parece não ter fim, chega a surpresa da finalização. O que termina é o que já começou.




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