A paisagem está
tão comovente que as palavras ficam pequenas. Daqui onde estou eu assisto a um
espetáculo musical. As folhas sendo dedilhadas pelo vento. Como posso escrever
com tantos ritmos fora de mim? Sou absorvido pela beleza e tranquilidade neste
dia pós-chuva de ontem. Apesar de estarmos no verão, a noite foi fria, lua
encoberta, obrigando-me a me munir de um cobertor também.
Vivemos os
primeiros dias do novo ano. Tudo igual a todos os outros, mesmo que achemos que
os dias são diferentes, nossos padrões passados nos arremessam para lugares
conhecidos.
Ontem falava com
uma pessoa que tentava me convencer do fim do mundo. Essa história de fim é
bacana, dá movimento às elucubrações das pessoas. As pessoas estão ardentemente
desejosas de novidades, nem que seja dar um fim ao mundo. Com a esperança, é
claro, de recomeçar. Acreditam que se algo der errado é só apertar as teclas do
computador (ctrl-alt-del) para reiniciar o programa.
Não acho que vamos
terminar assim tão fácil. Ontem falava com a minha filha sobre a teoria que a pessoa
havia me contado. Ela disse que teremos de subir mais de 2000 metros de
altitude, ficar longe de fios de eletricidade. Pensei onde seria esse lugar. Sempre
que alguém traz um conto, traz também uma paisagem mental para o seu ouvinte. Fiquei
a pensar que se for assim, não tem jeito, não conseguirei ficar sem
eletricidade, sou um ser elétrico por natureza. Minha filha, por sua vez, me
disse que seria legal, porque assim não precisaria sofrer a perda de sua
família, todos iriam de uma só vez. Acho confortador esse argumento de ir todos
juntos. Como se fossemos para algum lugar. Estamos condicionados a acreditar
que não vamos acabar nunca, o nosso inconsciente nos alimenta com sentimentos
de imortalidade. Não digo que seja impossível o mundo findar, mas ainda acho
improvável. São coisas diferentes.
Daí eu me
lembrei do filme “Melancholia”, de Lars Von Trier. Para quem não o viu, acho
que vale a pena. Não espere muita coisa em termos de efeitos especiais, pois o
filme é simples, porém com momentos de reflexão. Não vou contar a história aqui
para não estragá-la. Não quero ser o chato que já quer antecipar o final do
filme só para ser aplaudido sozinho. Bem, apenas vou contextualizar. Se eu não
o fizer estarei sendo injusto. O filme conta a possibilidade de um choque do
planeta Melancholia (que dá título ao filme) com a Terra. O filme discorre com
diálogos entre os personagens com suas histórias familiares paralelas.
Valeu a pena assistir
porque agora sei exatamente o que fazer caso a Terra seja ameaçada a
desaparecer. Sabe o quê? Nada. Gostaria de estar em casa tomando uma taça de
vinho, sem querer intuir saídas, sem rezas ou pregações. Gostaria simplesmente
de fazer como as copas das árvores que agora vejo daqui de meu jardim. Quero balançar,
indo e vindo no ritmo do fim de tudo. Se eu tiver a chance de embalar o fim com
uma música, escolheria esta: http://www.youtube.com/watch?v=1rjnnx4h0RU
Bem, se o fim
ainda não chegou, e o Sol já se foi novamente. Quero terminar este post com um
pouco de texto antigo que acabo de encontrar por aqui no meu computador. Coincidência
significativa.
Deixo o Vento levar tudo o que havia conseguido.
O Vento é força incompreendida.
Não sei o que o Vento quer.
Apenas sei que ele quer me levar.
Nada ficará. Tudo se perderá ao vento.
Não precisamos de muito para sobreviver.
Quem decide não somos nós. É o Vento.
Então não preciso me preocupar, nem me apavorar. Estou nas asas do
Vento.
Só preciso respeitá-lo, reverenciá-lo por sua sabedoria.
O Vento é divino porque é eterno em essência.
Quando tudo parece não ter fim, chega a surpresa da finalização. O que termina é o que já começou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário