Todos nós somos
mestres para alguém. Nunca duvidei disso, até mesmo porque compreendo as
relações humanas como desafio e aprendizado. O problema ainda é pensar que
podemos ser autossuficientes. O problema da autonomia é acreditar que ser
autônomo é ser independente. A confusão entre as palavras é fato corriqueiro.
Podemos ser autônomos - é preciso ser -, mas sempre seremos dependentes de
outros.
Como escreveu o poeta
Inglês John Donne (1572-1631):
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma
partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o
mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a
casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me,
porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos
dobram; eles dobram por ti”.
Sim, somos
interdependentes e interligados. Nada é separado de nada. Se prestarmos atenção
aos sinais da vida, veremos que cada um que entra em nosso cenário individual
tem algo a nos ensinar.
Ontem tive um problema
com o carro. O que parecia simples se tornou um problema impossível para eu
resolver sozinho; um pneu furado.
Tinha acabado de
chegar em casa e resolvi lavar as rodas do carro, porque o meu amigo Magoo, meu
Sharpei, tem urinado nas rodas para afirmar sua posse sobre o carro. Eu
compreendo, porque o que é meu é de todos na família, e, se o meu cachorro faz
parte da família, ele tem o direito de urinar nelas. Todavia, ele está em
processo de aprendizagem, mas ainda é possessivo. Ele terá de aprender a se
desapegar, como eu também faço diariamente.
Bem, quando fui lavar
as rodas vi que o pneu estava furado. Resolvi trocá-lo. Fiz como sei fazer.
Mas, não conseguia retirar a roda. Ela estava agarrada. Li o manual, como
qualquer pessoa que quer saber sobre alguma coisa, e lá estava escrito que há
um parafuso antifurto. Não encontrei o tal parafuso. Tentei de todas as
maneiras, até começar a me sentir irritado por minha incompetência. O
pensamento me atingiu: "Como homem, você tem de saber trocar um
pneu". O ego machista me lascou uma prerrogativa rígida. Eu, então, tentei
outras vezes. Não consegui. Só desisti quando o meu nervo ciático, de tanta
irritação, me avisou que precisava abrir mão de minha teimosia.
Decidi ligar para o
seguro. Eles me atenderam na hora. Antes de o borracheiro chegar, o meu ego
novamente exigiu de mim: "Que vergonha! Um homem que não sabe trocar um
pneu.". Não quis entrar no jogo do ego, então decidi resolver o problema
com a ajuda de alguém.
O homem chegou e
tentou retirar a roda. Assim que conseguiu, verificou que a roda estava grudada
pela urina do meu cachorro. Ele, entretanto, me ensinou:
"Você não precisa se preocupar em trocar o pneu
de seu carro. Você tem alguém que faz isso por você. Cada um tem uma missão.
Eu estou aqui para ajudá-lo. Se você me permite ajudá-lo, você me ajuda também.
Assim, eu mantenho o meu trabalho e o meu sustento. Sempre que precisar é só
ligar. Sempre que eu puder ajudarei o senhor".
Meu Deus, aquelas
palavras pareciam com as minhas palavras quando atendo alguém que se sente
impotente em realizar algo sozinho. Eu uso o mesmo argumento. De repente, me vi
sendo ajudado por quem quer me ajudar. Não estava mais sozinho com o pneu
furado, sem poder continuar.
O borracheiro me
mostrou que sempre temos alguém que podemos contar. Ele foi um importante
mestre para mim, pois ele ensinou ao meu ego que pedir ajuda não significa se
humilhar.
Acho que você precisava estar num dia desses onde a gente se acha cumpridor de todas as tarefas inclusive cuidar de um bem material móvel que o transporta para destinos que também dependem de sua ajuda.
ResponderExcluirEste fato aconteceu apenas pela precaução de um bom momento que o fez despertar para a sabedoria do ter e não ser naquele momento.
Somos doadores de ações beneficentes e muitas vezes nem nos tocamos com isso...
Acabei de aprender que somos uma centelha divina e partícula do átomo.Tenho certeza que me entendeu.