25 de fevereiro de 2013

Meu Feliz Desaniversário






Eu sou um aficionado por Alice no país das maravilhas e Através do espelho de Lewis Carrol. Sempre achei que essas obras-primas nos dão um sentido de mundo invertido. Isso mesmo, um mundo invertido é uma chance de acreditarmos que haja outras possibilidades de ser.

Em seguida, um pequeno excerto do livro Aventuras de Alice no País das Maravilhas & Através do espelho e o que Alice encontrou por lá. Lewis Carroll. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

“Deram-me a gravata”, Humpty Dumpty continuou, pensativo, enquanto cruzava os joelhos e punha as mãos em volta deles, “deram-me… como um presente de desaniversário.”
“Perdão?” Alice perguntou, perplexa.
“Não estou ofendido”, disse Humpty Dumpty.
“Quero dizer, o que é um presente de desaniversário?”
“Um presente dado quando não é seu aniversário, é claro.”
Alice refletiu um pouco. “Gosto mais de presentes de aniversário”, declarou finalmente.
“Não sabe do que está falando!” exclamou Humpty Dumpty. “Quantos dias há no ano?”
“Trezentos e sessenta e cinco”, disse Alice.
“E quantos aniversários você faz?”
“Um.”
“E se diminui um de trezentos e sessenta e cinco, resta quanto?”
“Trezentos e sessenta e quatro, claro.”
[...]
“E isso mostra que há trezentos e sessenta e quatro dias em que você poderia ganhar presentes de desaniversário…”.
“Sem dúvida”, disse Alice.
“E só um para ganhar presentes de aniversário, vê? É a glória para você!”
“Não sei o que quer dizer com ´glória´”, disse Alice.
Humpty Dumpty sorriu, desdenhoso. “Claro que não sabe... até que eu lhe diga. Quero dizer `é um belo e demolidor argumento para você!´”.
“Mas glória não significa ´um belo e demolidor argumento´”, Alice objetou.
“Quando eu uso uma palavra”, disse Humpty Dumpty num tom bastante desdenhoso, “ela significa exatamente o quero que signifique: nem mais nem menos.”
“A questão é”, disse Alice, “se pode fazer as palavras significarem tantas coisas diferentes.”
“A questão”, disse Humpty Dumpty, “é saber quem vai mandar – só isto.”.
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Hoje é o dia do meu desaniversário, e está próximo do meu aniversário oficial. Sempre estamos perto do nosso aniversário, pois tudo se alimenta de velocidade hoje em dia. Sendo assim, o melhor é não querer o que me afasta de mim mesmo, pois preciso estar em mim e para mim. Da mesma maneira que Humpty Dumpty diz que quando ele usa uma palavra significa que ele quer que ela signifique, eu também quero me dizer algo, ou seja, me presentear com o querer definitivo. Então, neste dia de desaniversário:

·         Não quero ter mais anos de vida do que qualidade destes anos;
·         Não quero ter um corpo que eu pretenda ter, pois o meu corpo é somente reflexo das atividades da alma, e ela eu não posso acessar, ainda;
·         Não quero festejar com pessoas que não sei quem elas são de verdade, pois essas pessoas podem me corromper, sou sensível a isso;
·         Não quero saber mais do que posso saber, mas quero o conhecimento que me propicia a aproximação de pessoas maravilhosas;
·         Não quero estrelas para contemplar, a Lua me basta. As estrelas são apenas reflexos da luz da Lua;
·         Não quero falar a língua dos homens, quero só me expressar;
·         Não quero ter mais, só aquilo que necessito;
·         Não quero fazer escolhas baseadas em convenções sociais, quero as escolhas em consonância com o meu aprendizado de vida;
·         Não quero sofrer o amargo da ignorância, quero aprender a ser melhor;
·         Não quero transcender os meus limites, o simples já me comove;
·         Não quero a dúvida porque ela provoca tensão. Não quero a certeza porque ela paralisa. Quero o discernimento para compreender o que é o melhor para mim;
·         Não quero chorar pela perda, quero perder para aprender a chorar;
·         Não quero felicidade, porque sei que ela é só um momento. Quero simplesmente saber me regozijar com o que posso ter no momento;
·         Não quero me ferir com preocupações, quero me ocupar com o que tenho no presente;
·         Não quero ter medo, quero ter fé;
·         Não quero me especializar em algo, quero me especializar em alguém;
·         Não quero me importar com nada, quero me desapegar a tudo.


E quando tudo for nada, serei quem sou. E quando eu for o que sou, nada será como antes.  

    

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