18 de junho de 2010

Uma relação nada compreensível

Estou triste, não sei se posso dizer deprimido, pois isso configura um rótulo nosológico. Portanto, prefiro o sentimento ao invés de o diagnóstico. De um lado, o sofrimento humano ao qual me deparo cotidianamente. Do outro, a ilusão mantida pela ignorância de uma grande parte das pessoas. Confesso que não gosto de me sentir assim. Porém, acho que todo sofrimento inclui também a poesia. Ou seja, uma forma de criação. O que seria da humanidade sem a depressão de Fernando Pessoa? Se ele fosse tratado, seria um pária estúpido, sem poder de criação.

Ao chegar, agora pouco, em casa, resolvi ligar a televisão para assistir ao filme “Mary and Max”. Um filme de animação baseado em fatos reais, sobre a relação entre duas pessoas. Um homem de quarenta e três anos de idade diagnosticado com a Síndrome de Asperger (uma espécie de autismo) e uma garota de oito anos. Eles nunca se encontraram, apenas por carta. Ela morava na Austrália, enquanto ele em Nova York. O filme é pesado para os olhos, e corações, mais sensíveis. Para quem não assistiu, eu recomendo duas vezes. O filme de Adam Elliot abriu o Festival de Sundance, e ganhou o Crystal Bear (prêmio para a nova geração) no Festival de Berlim 2009, entre outros. Desenvolvido com a técnica do stop-motion e finalizado com a ajuda da computação gráfica, o filme é demais. Mas não é sobre isso que quero falar, e sim sobre antes de eu assistir ao filme.

Cheguei cansado em casa, como comumente chego nas sextas-feiras. Resolvi tomar um banho e colocar o DVD para relaxar um pouco, antes de adentrar ao fim de semana em família.

Ao ligar a televisão caí no programa tosco “caso de família” da antiga apresentadora Christina Rocha. Lembram-se dela? Ela fazia o “Aqui e Agora”, exibido no SBT em 1991. Pois é, ela está agora fazendo um programa bobagem. E, justamente hoje que eu liguei a televisão, sem intenção, encontro uma mulher de quadris largos, maquiada de jovem. A pauta do programa era sobre as “vovós que vão à balada”. Antigamente, na minha infância, costumava ver “Vovó viu a uva”. Era melhor, mesmo sendo ruim.

Eu só assisti um pequeno trecho do programa enquanto ligava o DVD para ver o que eu realmente decidi ver. Nesse ínterim, ouvi o que o mundo se orgulha tanto: “a melhor idade” travestida de boas (falsas) qualidades. Se fosse a "melhor idade" não seria bom o suficiente. Em suma, não quero perder o meu tempo para falar sobre isso. O que quero é falar sobre Mary and Max, um filme em que poucas pessoas terão acesso, e muitos nem saberão que existe, infelizmente.

É lamentável. Mas é assim que o mundo se configura: Viver a ilusão somente, e fingir que é bom.

Quem consegue me ler por aqui, terá acesso a esse maravilhoso filme de animação. Pode parecer um filme para criança, mas não é.

Quem quiser assistir ao trailer do filme, clique aqui

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