Entrevista concedida à Andreia Vitorio para a Revista do Instituto dos Auditores Fiscais da Bahia
Andreia - O que pode ser definido como uma “velhice bem-sucedida”?
Pedro Paulo - Velhice bem-sucedida é viver esta fase da vida de maneira íntegra. A velhice é como a infância, uma categoria social. Entramos na velhice ao completar 60 anos de idade. O que diferencia a infância da velhice é que na última carregamos muito mais histórias. Muitas vezes pensamos que ser bem-sucedido é ter alcançado sucesso profissional. Mas, isso é somente uma pequena parte. O nosso maior desafio na velhice é ter a vida passado a limpo, principalmente com as nossas relações pessoais. Conheço muitos que vivem doentes, porque não conseguiram ainda rever seus conceitos de vida, ou mesmo perdoar-se com relação ao passado. Portanto, viver de maneira íntegra é viver com saúde. Infelizmente, as pessoas ainda pensam que a saúde do corpo não depende de sua história pessoal. Acham que a doença vem de fora, o que não é verdadeiro. Os nossos sintomas indicam que ainda falta juntar os pedaços. Pode parecer que a biologia não tem nada a ver com isso, mas tem. A palavra “sintoma” vem do grego, significando sin = juntar e tomo = pedaços. A doença é uma sinalização de que a maneira que levamos a vida precisa mudar. Entretanto, é muito mais cômodo culpar a idade.
Andreia - Como envelhecer bem?
Pedro Paulo - Não deixando nada para trás. Tudo precisa ser resolvido no aqui e agora, e aquilo que não se pode resolver já é um problema resolvido. Envelhecer bem é passar pela vida refletindo o que ela te mostra. Vejo a vida como uma grande arena de aprendizado.
Andreia - Além da prática de exercícios e de uma alimentação saudável, quais outras atitudes podemos ter enquanto jovens para garantir um envelhecimento de qualidade? Qual a importância, por exemplo, dos amigos, da família e de um bem-estar afetivo?
Pedro Paulo - É preciso cautela e risco para se viver. Nossas atitudes são determinantes em nossa qualidade de vida. Sem dúvida, viver bem materialmente fazendo exercícios físicos e tendo uma alimentação saudável nos faz estar bem no corpo (bem-estar), mas é preciso também saber como traçar boas estratégias de relacionamento. É fundamental que teçamos positivamente nossas redes de relacionamento. Viver consciente é uma boa maneira de garantir um envelhecimento de qualidade.
Andreia - A partir da sua experiência em atendimento, quais as principais queixas dos mais velhos?
Pedro Paulo - As grandes queixas são as preocupações e as culpas. Preocupação negativa é o que denomino de preocupação improdutiva. Você perde muita energia pensando em algo que não sabe se de fato irá acontecer, e como não se pode resolver algo que ainda não se mostrou na realidade, a pessoa tensiona o corpo para lutar ou fugir. Essa atitude faz com que todo o organismo sofra mudanças. Estas mudanças são provocadas pela liberação de hormônios de estresse, levando o organismo a permanecer vulnerável às doenças.
A culpa é um sentimento paralisante. As pessoas que se sentem culpadas são pessoas tensas, com dores no corpo, sobretudo nas costas. Por uma perspectiva simbólica do corpo, as costas são a lixeira psicossomática onde é depositado aquilo que não se quer enfrentar. Entretanto, a culpa não é tão simples de ser reconhecida. É mais fácil reconhecer a culpa quando fazemos mal a outras pessoas. Mas, ela pode vir também quando deixamos de fazer o bem; ou quando pensamos que poderíamos ter tido uma vida diferente se tivéssemos tomado outro caminho; ou porque desperdiçamos oportunidades. Enfim, a lista é enorme.
Andreia - E seus anseios? Qual a importância de planos, projetos e sonhos para envelhecer bem?
Pedro Paulo - É sempre importante ter objetivos. O nosso cérebro é mais ativo quando estamos em busca de algo. A inatividade é o grande mal. Muitas vezes as pessoas acreditam que se não podem realizar grandes feitos não tem por que planejar. Devemos ter projetos sempre. Podemos começar pelos pequenos. Aquilo que não me agrada, tento fazer de modo diferente. Para realizarmos um sonho temos de dar um passo de cada vez. Não há outro meio de agir se não for por nós mesmos.
Andreia - Com o passar dos anos, é comum ficarmos mais expostos a fatores de risco à saúde, a perdas de funções e papéis, de posição social e até mesmo de convivência com pessoas queridas. Precisamos, de certa forma, nos prepararmos para a perda à medida que envelhecemos?
Pedro Paulo - Perdemos sempre, mas toda perda vem carregada de novas aquisições. Basta ter olhar para ver. Somos passagem. Tudo muda. Não podemos construir uma casa numa ponte, a vida é uma ponte. Não temos como nos preparar para perder, mas podemos saber que somos muito mais do que aquilo que perdemos. Temos de colocar as coisas em perspectiva. Saiba que somos nós a escolher como nos sentimos em quaisquer circunstâncias de nossa vida. Podemos nos sentir mal com a perda, é natural, mas se escolhermos preservar este mal é importante saber que o corpo responderá de alguma maneira. Daí os riscos para a saúde.
O importante é não ficar melancólico e saudosista daquilo que já passou e se perdeu no tempo. Somos muito mais importantes do que as nossas perdas.
Andreia - Se por um lado perdemos, o que podemos ganhar com o envelhecimento?
Pedro Paulo - Muita coisa. Envelhecer nos faz mudar de perspectivas e conceitos. Se não envelhecêssemos não teríamos a chance de fazer diferente e melhor. Só podemos ter esperança porque envelhecemos. Envelhecer é um processo de transformação do indivíduo no seu tempo vivido. Se hoje está ruim, amanhã poderá estar melhor, porque estamos nos transformando. Quantas pessoas atendo que me falam: “Hoje sou bem melhor do que no tempo da minha juventude”; “Hoje consigo ter liberdade, porque sou dona de mim mesma”; “Hoje faço tudo o que não tive a chance de fazer antes”.
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