17 de março de 2011

Estar sozinho com os outros


Alguns de meus alunos do curso de psicologia costumam me perguntar: “Como podemos dar conta do sofrimento do outro?”. Pergunta de iniciante. Muitos professores acham assim. Na verdade, eu diria que não damos conta, e sim sofremos junto. Sofrer faz parte da saúde. Quando tentamos retirar o sofrimento de cena, o sentimento se torna repressão. Nossas defesas se transformam em contra-ataque. Por isso, é preciso relativizar os conselhos dos livros de auto-ajuda. Eles são simples, enquanto a nossa natureza complexa.

O terapeuta pode estar preparado, mas ele não deixa de ser gente, portanto também sofre. Se não sofre, está descorporificado, anestesiado de si mesmo, uma espécie de pedra de gelo a derreter aos poucos.

Hoje atendi a uma senhora suicida. Ele, pela primeira vez, assumiu querer se matar. Não tem mais sentido a vida. Ela se sente sozinha quando tem gente ao seu lado. Esse é um grau elevado de desistência. Nem a família tem mais significado. Então, ela toma muitos remédios, mais do que o indicado pelo psiquiatra. Conseguir remédio é fácil. Sempre tem um vizinho a indicar uma dosagem maior do que necessário. Para o terapeuta, a condição é lamentável, mesmo munido de técnica, ele não pode reverter a situação se ela não aceitar. A pessoa caminha com as próprias pernas para o penhasco. Antes, pensava que poderia existir uma saída para os problemas das pessoas. E, de fato, existe. Porém, depende de quem aceita mudar a trajetória.

Há anos venho tentando ajudar pessoas de todas as maneiras. Tive uma mãe suicida. Ela conseguiu se matar com uma doença coronariana. Pode-se pensar que o suicídio é cometido quando uma pessoa se mata com uma arma de fogo, ou se joga de um prédio, ou toma veneno. Mas não é só assim. Se você sabe que algo pode mata-lo, isso significa uma atitude responsável. Ou seja, é uma escolha que levará à morte. Por uma perspectiva ecológica, estamos sendo coniventes com a busca de nossa morte prematura. As catástrofes vistas hoje na natureza não são por acaso. Todos têm sua parcela de participação. Se eu fosse diferente não andaria de carro. É simples assim. Mas, como deixar de usufruir de nossas conquistas?

Em minha aula de ecologia humana sempre digo que o lixo do mundo é o nosso lixo pessoal. O planeta é a nossa casa. Não tem para onde fugir. Infelizmente, acreditamos que não seja assim. São as nossas defesas, baseadas no autoengano. Temos em nossos bolsos uma sorte de justificativas para o nosso comportamento.

Para conseguirmos avançar teremos de nos conscientizar de nosso sacrifício (santo ofício). Sem uma visão mais ampla da vida não poderemos ser quem de fato acreditamos ser. O que somos é somente a nossa máscara (persona), e não quem somos de fato.

 

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