A perfeição está fora da realidade
Pessoas perfeccionistas exigem demais delas mesmas e, por isso, exigem demais dos outros também. Sempre é preciso encontrar um bode expiatório para a própria frustração. Não admitir a intolerância em si mesmo é uma saída ruim, porque reforça o padrão neurótico de sempre acreditar que as coisas podem ser melhores do que elas podem de fato ser. As coisas são como elas são, e pronto.
O perfeccionista é também um controlador. Ninguém pode controlar a ação dos outros. Muitos acreditam que controlam. Outro dia escutei um pai dizer que nunca deixava seus filhos saírem à noite, porque a noite era perigosa demais. Os filhos não entenderam sua preocupação, e agora os filhos não falavam direito com ele, nunca o visitava. O que esse pai não entendeu foi que tentar controlar alguém é como tentar segurar areia entre os dedos. Em certo momento a areia escapa. O pai teve de encarar mais tarde, quando os filhos já adultos, o afastamento deles. Quando puderam assumir suas próprias vidas decidiram conhecer o mundo, saldar o tempo perdido. O pior foi que levaram com eles a marca na lembrança de um pai autoritário. “Hoje eles me consideram autoritário, mas não sou mais”. Não é porque não pode mais ser. Não existem mais os bodes expiatórios para receber a carga do controle, intolerância, e perfeccionismo dele. Graças a Deus envelhecemos. Envelhecer nos faz mais humildes, nos faz curvar para ver onde pisamos. Caso constatemos nossas intransigências ainda cedo só olharemos estrelas na velhice, sempre com a cabeça altiva.
Enquanto o filho erra por não ser aquilo que o pai/mãe quer, o auto-exigente pai/mãe peca pelo excesso de expectativa com relação aos filhos, querendo que eles sejam o que eles não podem ser. Em suma, não cabe pensar que os filhos têm de ter o mesmo papel do pai ou mãe. Ter o mesmo papel é repetir história. Nascemos para evoluir e auxiliar na evolução dos outros que estão ao nosso lado.
Uma postura rígida de conceitos, e também preconceitos, pode causar doença. O que é rígido se quebra, não tem mais jeito. Enquanto, o que é flexível se curva por um momento para depois se erguer novamente.
A equação é simples: Ninguém pode se ferir sem antes se ferir primeiro. Portanto, cabe lembrar que toda expectativa está sempre fora da realidade. Ela nunca é o que se espera, ou seja, se idealiza.
Continua amanhã.
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