3 de abril de 2011

Crítica e Autocrítica - Parte I

Palestra realizada dia 30 de março de 2011, cidade de Petrópolis-RJ


“Crítica é tudo o que decide ou julga (...). É submeter nossos conhecimentos, nossos valores e nossas crenças ao tribunal da razão. Nele, portanto, a razão julga a si mesma.”
André Comte-Sponville


Podemos compreender a crítica e a autocrítica por duas perspectivas: uma positiva, a qual nos faz crescer e ter mais autonomia, e outra negativa, a qual nos faz adoecer.

A positiva:

A autocrítica refere-se à capacidade de uma pessoa fazer a crítica de si mesma. Ela analisa os próprios atos, sua maneira de agir, erros cometidos e possibilidades em corrigi-los. Desse modo, a pessoa tem possibilidade em aprimorar-se adquirindo maior autoconhecimento.

Sem dúvida, conhecer a nós mesmos é um processo difícil, e nunca lograremos a plenitude desse conhecimento, pois estamos sempre em contínuo desenvolvimento, carregando uma grande bagagem do passado rumo a um futuro incerto. O que acreditamos ser certo hoje pode não sê-lo amanhã. Essa é a nossa condição humana. Quanto mais velhos, maior a carga de um passado distante. Contudo, vale a pena a reflexão sincera para descobrirmos potencialidades latentes, pontos fortes e pontos fracos, ter noção do que é melhor para nós e para os outros, e qual caminho seguir no fluir do vento. Os antigos navegantes da Escola de Sagres já indicavam que “nenhum vento é favorável para aquele que não sabe onde quer chegar”.

A negativa:

Pelo fato de as pessoas estarem tão mergulhadas no cotidiano não param para refletir sobre a própria caminhada. Quando o movimento é intenso, é difícil retornar ao centro de si mesmo. Então, a incapacidade de compreensão surge, e o julgamento busca o seu alvo. Os defeitos dos outros são logo observados, sem se dar conta de que o maior incômodo não é o que é visto do lado de fora, e sim o que está dentro de quem vê. Muitas vezes o incômodo é tão grande que a pessoa sente o mal-estar (estar mal no próprio corpo). Surgem as dores de cabeça, prisão de ventre, palpitações incontroláveis, tensões e dores musculares. Com elas, a irritabilidade, ansiedade, intolerância, medo e raiva, tristeza e insegurança. Inicia-se, portanto, a projeção. Elas projetam no outro tudo aquilo que não querem ver nelas mesmas. Quantas vezes esse outro fomos nós? Quantas vezes o outro foi também alvo de nossa intolerância? Todos já passaram por essas experiências.

Muitos buscam saída pela boca, ou comendo e bebendo demais, ou falando mal dos outros; da mãe e do pai, dos amigos e colegas de trabalho, do governo, ou de quem passa por perto. Essa atitude é porque a pessoa busca saída para o seu mal-estar.

                                 O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem. (Mateus 15:11).

O que entra só entra porque quer sair. É uma espécie de bulimia da intolerância consigo mesmo. O cálice está cheio, transbordando. Não há permissão para o descanso necessário. A preocupação se tornou um modo de responsabilidade, ação contínua. A pessoa está corrompida pelo ruído. É preciso ter mais, fazer mais. A única alternativa é acumular. A criança aprende isso desde cedo quando a mãe diz: “Guarde os seus brinquedos para brincar depois. Agora é hora de comer.”. Ela quer brincar, não tem fome. Mas, está na hora de comer, de acumular, de ter mais.

Ao invés de se voltar para o centro, continua-se na periferia, nas bordas da atividade sem reflexão. Está na hora de comer, da obrigação, e não do prazer de brincar. O oleiro para fazer um belo jarro de cerâmica precisa brincar com os dedos, se concentrar em direção ao centro da roda.

continua...

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