Obviamente é mais fácil
seguir as regras sociais do que questioná-las. Todo questionamento é uma
provocação, um abrupto modo de desviar-se do conhecido, sair da zona de
segurança. Questionar é um risco. Entretanto, sem questionar nos tornamos
autômatos. É uma escolha. Por exemplo, muitas pessoas acham que viver bem é não
ter de passar por adversidades, enquanto viver mal é atravessar um rio
caudaloso de perpétuo sofrimento. Nenhuma vida é fácil. Pelo menos, até agora,
nunca encontrei uma pessoa, que seja reflexiva, obviamente, afirmar que a vida
é fácil. Todos nós temos de aprender, e isso se faz pela passagem de um estado
a outro. Sendo assim, aprender é mudar. Mudar é ter um novo modo de perceber as
situações e circunstâncias já conhecidas. Nunca saímos incólume de um novo modo
de ver as coisas. Dá trabalho e exige esforço de adaptação. É como a borboleta
que não acha graça alguma ao sair do casulo. Ela tem a liberdade de voar para
onde quiser, mas o casulo a propicia mais conforto e segurança.
As pessoas querem o
novo sem abrir mão do antigo. Há duas semanas estive com alguns religiosos, mas
não tão crentes assim. Uma coisa é a escritura, outra coisa é a atitude e a emoção
expressadas. Costumo pensar que quem tem fé não teme o que ainda não está à
frente, certo? Pode parecer óbvio, mas não é bem assim. Todos nós durante a
vida passamos pelo medo e preocupação. São coisas diferentes. O medo é um
sentimento a provocar uma emoção (reação corporal) no intuito de lutar ou fugir
com a finalidade de autopreservação. A preocupação, no entanto, é uma
lucubração, devaneio de um possível revés na vida. Ambos provocam grandes
mudanças corporais que, se mantidas por muito tempo, passarão a ser uma
catástrofe ao equilíbrio do organismo.
Ter medo é
fundamental. Ele surge em situações de risco verdadeiro. Preocupação, por outro
lado, é se ocupar antes de o acontecimento surgir. Então, ter medo não depende
da fé. Ele surge independentemente da vontade consciente. William James
teorizava que primeiro fugimos (ato inconsciente) para depois sentirmos medo
(ato consciente).
Segundo o Dicionário
de Filosofia – eu tive de recorrer a ele para corroborar minha ideia –, Fé é
uma espécie de confiança religiosa na palavra revelada pela divindade. Enquanto
a crença, em geral, é o compromisso com uma noção qualquer. São Paulo dizia:
“Fé é a garantia das coisas esperadas e a prova das que não se veem”. Ou seja,
a ciência prova o que se vê, enquanto a fé não prova, e nem precisa provar nada.
A fé é um diálogo com o obscuro.
José Maria Cabodevilla,
sacerdote e teólogo espanhol, dizia que Deus não gosta dos insones. Ele se
referia às pessoas preocupadas, porquanto sem fé. É nesse sentido que penso na
importância de questionar os conceitos para aprendermos outras formas de viver.
Eu não posso ser um homem de fé enquanto me preocupar com o meu destino. Só
terei fé quando confiar no fluxo divino da natureza.
Sócrates ao dizer “Eu
sei que nada sei”, queria provocar seus interlocutores e também a ele mesmo,
queria pôr em dúvida as certezas. Ser cético não é ser uma pessoa incoerente,
chata, mas é ter uma saída para rever os próprios conceitos.
Não temos como saber
quem somos totalmente. Por isso temos de questionar tudo, inclusive nós, sem
julgar, culpar ou punir. Se a mudança é irredimível não tem como sermos os
mesmos do passado. Podemos ser melhores. Assim sendo, exercitaremos o nosso
livre olhar sobre as coisas, sem perder a atenção no observador, que somos nós
mesmos. Enfim, nós ainda continuaremos a ser a pessoa mais importante do
cenário planetário. Pois, quando fecharmos as janelas da alma mais nada
importará.
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