29 de abril de 2013

Beleza é emoção




Contemplar a beleza me emociona a ponto de surgir lágrimas. Quando criança era difícil compreender esta estranha emoção, pensava ser tristeza. Eu me emocionava com a luz da lua que me banhava. Minha mãe justificava ser pelo fato de algumas pessoas serem diferentes de outras. Uma criança sensível tinha reações completamente diferentes daquelas com menos sensibilidade. Mesmo com a explicação dela ainda me considerava anormal, queria ser igual aos meus colegas, fortes e protegidos pela insensibilidade. Porque as crianças buscam aprovação do grupo, e um menino que chorava pela beleza não podia ser normal. Portanto, como defesa, investi de maneira inconsciente na insensibilização. Logo na infância a criança cria couraças de proteção para se sentir seguro nos seus relacionamentos. A construção das couraças musculares é claramente observada nas crianças que vão para escola e passam a experimentar seus primeiros contatos sociais. Eu não fui diferente. Os meus movimentos em casa com as pessoas conhecidas eram movimentos suaves, totalmente livres. Após entrar em contato com estranhos, ela passou a ser máscara social, formando a minha personalidade, não o meu caráter. As máscaras podiam ser vistas nos meus movimentos contidos e posturas premeditadas.

Investido de minha couraça passei a me permitir sentir a beleza apenas ao lado de minha mãe, pois ela me aceitava da maneira como eu era, embora ela ficasse preocupada com as minhas condutas. Ela queria me proteger. Os pais costumam analisar o comportamento dos filhos e julgar anormalidades. Minha mãe, ao contrário de meu pai, apesar de desconhecer o comportamento humano, conseguia intuir que as minhas condutas eram normais, mesmo sendo incomuns. Ela era sensível como eu. Todas as vezes que ela encontrava algo que pudesse me proporcionar beleza corria para me chamar, pois queria me alimentar de contentamento. Foi um gesto de generosidade e ensinamento cheio de sabedoria. Eu sempre me esforcei para ensinar as minhas filhas a sentir a beleza. Não estou certo de que eu tenha sido tão hábil quanto a minha mãe. Não sei dizer se a sensibilidade pode ser ensinada, se a capacidade de transcendência ao mundo sensível pode ser herdada, mas sei que a emoção do corpo ao ver o belo pode ser construída pela educação. 

Desconhecia o que se passava na cabeça de minha mãe naqueles momentos, mas ainda lembro-me da imagem de seus olhos repletos de regozijo e orgulho do filho. Compreendo que chorar ao sentir a beleza não é muito comum entre as pessoas, mesmo porque somos condicionados a sentir mais as preocupações e a nos defendermos dos supostos perigos da vida. Não estamos acostumados a exercitar o despojamento para fazer parte do objeto contemplado, a fim de nos tornarmos um com tudo. Pelo contrário, aprendemos a ser egocêntricos e, portanto, o ego tem de estar protegido por uma barreira na qual se divide o que está dentro (o que é bom e bonito) daquilo que está fora (o que é ruim e feio). Sendo assim, aquilo que é exterior passa a ser uma aparência que ora agrada, ora não.

Eu aprendi com a minha mãe que a lua é bela porque ela é o verdadeiro mistério da vida.

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