23 de julho de 2013

Juntos na paixão, nem sempre felizes no coração






O mito grego de Eros, o deus do amor e da fertilidade, representa a ideia da paixão e do desejo sexual. A palavra “erótico” deriva desse deus tão reverenciado em nossos dias, com outras vestimentas (ou sem elas), é claro. A iconografia clássica romana representada por anjinhos ingênuos com asas brancas e pudicas armados de arcos, prontos a disparar flechas em pessoas desavisadas, ainda é hoje a imagem perseguida pelos românticos. Eu mesmo, em minha adolescência, pedia aos cupidos para flecharem as garotas que eu me interessava. Mas, isso só se revelou em minhas fantasias, nunca no plano do real. Ainda bem, porque naquela época eu talvez não conseguisse dar conta de uma pessoa apaixonada por mim.

Os gregos antigos temiam os rechonchudos anjinhos porque viam neles uma forma de amor perigosa, impetuosa e irracional. Para eles, os cupidos eram inconsequentes a disparar flechas para todos os lados, e quem fosse flechado perderia o controle, descambando em um relacionamento incoerente.

As pessoas almejam ter um parceiro loucamente apaixonado, que tenham atitudes inesperadas e impensadas em função de um amor. A paixão não é amor, e sim um impulso, um instinto incontrolável. Para não ceder aos instintos é necessário atenção e racionalidade. Porém, a racionalidade também se alimenta de emoção. Não existe uma sem a outra. Com potência emocional não sobra razão que tenha controle. Não é impossível, mas pouco provável que haja meios de refrear desejos mais intensos, principalmente quando a situação se mostra propícia.

Existe uma teoria bastante interessante sobre os nossos impulsos inconsequentes. A teoria é do renomado neodarwiniano Richard Dawkins. Ele mostra que os nossos genes são egoístas. São eles que ditam as regras de nossa sobrevivência e procriação. Nossas atitudes, muitas vezes consideradas racionais, nada mais são do que “movimentos estratégicos inconscientes”. Nossas decisões são regidas por nossos genes, e eles são egoístas porque eles só querem se tornar imortais, por meio de outros, ou seja, nossos filhos.

Portanto, o nosso desejo de ter filhos não é uma decisão consciente, mas um apelo de nossos genes para que eles possam continuar vivendo em outros. Eles fazem de tudo para continuar, mesmo sem a nossa presença. Dentro dessa perspectiva, o amor romântico seria apenas um colorido criado pelo consciente como justificativa, mas quem dita o comportamento impulsivo da paixão é gerência de nossos genes. Não importa o que sentimos, o mais importante é o impulso de aproximação de nossos possíveis facilitadores de reprodução.

De fato, ficamos embriagados com efeito das flechas desses cupidos invisíveis que são os nossos genes egoístas. Por isso, não é simples saber qual será a melhor trama a ser vivida com o parceiro (a) com o qual construiremos uma história conjugal.

Ontem escutei de uma mãe preocupada com a filha: “Ela se casou com um homem fraco e irresponsável. Agora, ela passa por necessidades financeiras. O marido está sem trabalho e sou eu quem tem de ajudar”.

Eu disse a ela que não sabemos decidir por nós mesmos de um modo coerente quando o sino de nossos desejos inconscientes é tocado. Sabemos sim que somos nós a escrever os nossos scripts de vida, porém a nossa capacidade racional não é pura. Ela é influenciada por nossos impulsos e instintos silenciosos. O que podemos fazer para aliviar a angústia é saber que cada um tem a responsabilidade de assumir a própria vida. É preciso ter resignação do passado, olhar de frente o presente, e decidir o que será feito a partir de agora para reescrever o futuro.       



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