Filó
é o nome de uma mulher que busca ser amada. Nasceu há 80 anos com o nome de
Filomena. Contou-me que no dia de seu nascimento seu pai levou para a mãe dela
uma jarra de tulipas brancas. Ela acreditava ter herdado do pai uma certa
necessidade romântica, até ler que as tulipas são consideradas uma mensagem de
perdão. Sempre desconfiou de uma possível traição do pai. Se por um lado era uma mulher romântica, por outro, era desconfiada.
Nunca abandonou essa ideia. Sempre desconfiara dos homens. Até porque a mãe
sempre que tinha a oportunidade reforçava a ideia com um conselho:
"Cuidado! Homens não são confiáveis". Entretanto, ela manteve os
sonhos românticos. Casou-se, teve filhos, divorciou-se, casou de novo, ficou viúva,
teve outro companheiro e se separou. Foi amada, mas não permaneceu no amor.
Eu a
conheci há alguns anos. Ela me procurou porque queria ser uma "velha
melhor". Ela não reclamava de nenhum sintoma em seu corpo, pois o que ela
queria mesmo era ser melhor. Obviamente, entre as linhas de sua fala estava
algo que ela não sabia descrever. O seu coração estava marcado pela história de
sua vida, e doía ao ser tocado. O corpo é forjado por nossos desejos mais
íntimos. Às vezes, estes desejos são tantos que perdemos alguns pelo caminho.
Semana
passada ela me confessou: “Eu nunca tive o meu príncipe encantado. Eu ainda
quero realizar o meu sonho”. Ela
reclamava o seu direito de ser princesa. O envelhecimento nem sempre apaga
algumas idealizações.
O
ideal romântico é uma construção histórica. Não podemos fugir facilmente de
nossos sonhos. Às vezes eles só nos trazem infortúnios. Não deixemos de nos
enganar pela vida, ou melhor, pelas nossas construções ideológicas. Uma
ideologia é uma imagem, uma cena montada por nossos scripts. Temos de nos
precaver com os nossos sonhos. Sonhar sem fundamento é frustração na certa. É
melhor ser como o menino a soltar pipa. Ele comanda a pipa no céu sem deixar de
estar plantado na terra. Assim é mais seguro.
O
número de pessoas frustrada é cada vez maior, porque a mídia vende sonhos
inacabados. Vivemos a era em que tudo pode ser realizado. Ledo engano. Cada um
tem o seu destino, porque possui sua idiossincrasia. O que é meu é meu, o que é
do outro é do outro. Não posso embarcar no barco alheio senão estarei à deriva
em breve. É assim que uma embarcação encalha, e encalha feio.
Filó
mantém os seus sonhos vivos em um corpo envelhecido, mas ela sabe agora
relativizá-los. Bem, essa história ainda não acabou. Temos de seguir em frente
e quem viver verá, ou não, porque é apenas uma história.
muito bacana ..realmente uma verdade
ResponderExcluir