7 de setembro de 2013

Família






Semana passada ministrei uma palestra sobre “O envolvimento da família com a doença”. Gostaria de compartilhar aqui o resumo de minha exposição.

Entendo a família como um complexo cujos membros estão relacionados entre si. A família é como um móbile, uma vez que uma parte se mova as outras acompanharão o ritmo do movimento. Porque tudo está interligado e é interdependente. A família é definida pelo relacionamento entre as partes, em vez de pela soma das partes. Cada membro familiar é um hólon, isto é, uma totalidade indivisível. Portanto, a importância de se respeitar as diferenças. Nesse sentido, a família pode ser entendida como um organismo vivo complexo, com um sistema autorregulador a fim de preservar a homeodinâmica do sistema. Sempre que uma parte do sistema familiar estiver fora de equilíbrio, os outros membros do sistema tentarão equilibrá-lo.

Não existe equilíbrio estático, como muitos podem querer acreditar. Vivemos porque somos seres em movimento. A homeodinâmica é definida como um processo autorregulador que mantém o equilíbrio dinâmico, transacional, de um organismo. Quando sofre qualquer perturbação, os laços de retroalimentação operam a fim de reduzir ou ampliar qualquer desvio do estado de equilíbrio. Por isso, aprendi que viver é um constante pintar cenários, arrumar gavetas e caminhar no incerto.

A família constitui a unidade primária e estrutura nuclear do padrão social. Sendo assim, estar em relação é estar em ação, mudando a todo momento. E se tudo muda, não há como afirmar que podemos conhecer os filhos, os pais, ou qualquer pessoa. O que somos hoje não seremos assim tão semelhantes amanhã. Essa premissa nos ajuda a ser mais tolerantes e com menos expectativas. Com menos expectativas, mais chances de não nos frustrarmos.

Na palestra, foi abordado sobre a importância de entender que as palavras doença e saúde são singulares, porque se referem ao estado da pessoa em si, e não as partes do corpo ou órgãos. O mal-estar é estar mal no corpo, é estar fragmentado. Foi mostrado que durante a vida, as pessoas envelhecem e se fragmentam, principalmente ao resistirem ao fluxo natural da vida.

Ao longo da vida vamos nos fragmentando, seja pelas perdas, frustrações, preocupações, conflitos relacionais, seja pela incapacidade de aceitar o que se mostra como desafio. Viver é ser desafiado constantemente. Tudo depende de como encaramos os acontecimentos. Uma realidade é realidade para um único olhar.

Mesmo depois da fragmentação ainda existe a capacidade de resiliência, um resgate do equilíbrio coletivo.

Como as pessoas se fragmentam? Pela alteração do fluxo da bioenergia. Alguns comportamentos como o controle, a preocupação, o conflito relacional, são evidentes em processos de fragmentação. Esses comportamentos bloqueiam a espontaneidade da vida. Citando mestre Eckhart: “Deus é a unidade e a pureza, e estas decorrem do desprendimento”.  O controle é rolar contra o fluxo natural da vida, é a resistência, e, portanto, sofrimento.

Para esclarecer sobre um pensamento recorrente equivocado, o qual as pessoas ainda insistem acreditar, foi mostrado que a velhice não é sinônimo de doença. O sistema biológico se torna mais vulnerável nessa fase da vida porque a vulnerabilidade não é somente física, e sim também psicossocial.

Qual o maior temor da velhice? A dependência. Segundo pesquisas sobre o cuidado a situação é alarmante e preocupante, pois as famílias não estão organizadas o suficiente para função tão estressante. O estresse é propiciador de atitudes como raiva e culpa; impaciência e intolerância; acusações e agressividade; negligência e maltrato.

Todavia, o ato de cuidar de um familiar doente é uma oportunidade de resgate. Toda relação familiar é um convite a resgatar algo que se perdeu no tempo, porque os mais velhos são oportunidades para os mais novos reverem suas próprias histórias. E se o afeto é o que nos afeta, ele é um meio de transformar o que se foi um dia em algo maior, aqui no presente. Para isso, é necessário transcender o ego, o que não significa destruir o ego, mas sim, conectá-lo a alguma coisa maior.


A palestra foi finalizada mostrando que a espécie humana é dotada de um cérebro mais evoluído do que as outras espécies. Sendo assim, o humano tem a capacidade de consciência para refletir sobre suas próprias atitudes e escolher a paz e harmonia nas relações familiares. Reforçando que a consciência e o olhar atento ainda são a melhor saída para todos os conflitos familiares.

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